O velho ranzinza que vive dentro de mim é uma figura extremamente radical e injusta. Ele anda, entre uma baforada e outra de cigarro, me dizendo assim:
"O que há de pior nessa geração que nasceu depois de 89, além dessa desconfiança natural que seus membros possuem das grandes teorias, é
esse desejo orwelliano de destruição da língua e de criação de um novo dicionário com o menor número de palavras possível. É uma coisa meio novilingua,
sabe?
Sou de uma época em que as pessoas diziam: “Ela tentou evitar o sorriso, mas em um movimento
involuntário dos nervos do rosto, os lábios se abriram e derrubaram,
vitoriosos, os deuses da ironia e da beleza aos seus pés”.
Agora não. Essa geração quando quer sorrir solta
simplesmente um rs (que nós, com mais de 30, tendemos a ler como se lê
onomatopeia, um rrrrs, com R de gargarejo bem típico dos alemães). É assustador!
É uma espécie de Adolf Hitler satirizado no Bastardos Inglórios (filme bem
típico dessa geração).
Pensa! Você está no meio de uma conversa interessante e
meiga e, de repente, ao invés da pessoa sorrir involuntariamente, ela solta
esse rrrrs meio que escarrando em nossa cara. É constrangedor!!!
E não preciso dizer que isso é extremamente conservador.
Trata-se da suspensão do elemento estético e da vitória, estrondosa, do
pragmatismo estadunidense na linguagem. Tudo se torna rápido, econômico,
lucrativo, ninguém se dá ao trabalho de se deter sobre algo de modo
arrebatador.
Mas, não devemos culpá-los. Eles nasceram depois de 89. Como esperar que não carreguem em si mesmos um muro se desmoronando?
Nenhum comentário:
Postar um comentário