sexta-feira, 6 de março de 2015

Quem nasceu depois de 89



O velho ranzinza que vive dentro de mim é uma figura extremamente radical e injusta. Ele anda, entre uma baforada e outra de cigarro, me dizendo assim: 

"O que há de pior nessa geração que nasceu depois de 89, além dessa desconfiança natural que seus membros possuem das grandes teorias, é esse desejo orwelliano de destruição da língua e de criação de um novo dicionário com o menor número de palavras possível. É uma coisa meio novilingua, sabe?

Sou de uma época em que as pessoas diziam: “Ela tentou evitar o sorriso, mas em um movimento involuntário dos nervos do rosto, os lábios se abriram e derrubaram, vitoriosos, os deuses da ironia e da beleza aos seus pés”.

Agora não. Essa geração quando quer sorrir solta simplesmente um rs (que nós, com mais de 30, tendemos a ler como se lê onomatopeia, um rrrrs, com R de gargarejo bem típico dos alemães). É assustador! É uma espécie de Adolf Hitler satirizado no Bastardos Inglórios (filme bem típico dessa geração).

Pensa! Você está no meio de uma conversa interessante e meiga e, de repente, ao invés da pessoa sorrir involuntariamente, ela solta esse rrrrs meio que escarrando em nossa cara. É constrangedor!!!

E não preciso dizer que isso é extremamente conservador. Trata-se da suspensão do elemento estético e da vitória, estrondosa, do pragmatismo estadunidense na linguagem. Tudo se torna rápido, econômico, lucrativo, ninguém se dá ao trabalho de se deter sobre algo de modo arrebatador.

Mas, não devemos culpá-los. Eles nasceram depois de 89. Como esperar que não carreguem em si mesmos um muro se desmoronando?

Por mais que hajam alguns dentre eles que sejam simpáticos ao comunismo, estão todos, mesmo na militância que fazem, enredados em uma linguagem de fim da história”.

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